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Aston Martin com motores melhores do que a Mercedes? Calma

O assunto ganhou volume nas redes sociais e na internet. Mas uma análise mais detalhada mostra que tem muito mais coisa a ser considerada

10 mar 2023 - 17h25
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Unidade de potência da Mercedes. A Aston Martin pode ter unidades melhores do que sua fornecedora? Não é bem assim...
Unidade de potência da Mercedes. A Aston Martin pode ter unidades melhores do que sua fornecedora? Não é bem assim...
Foto: Mercedes-AMG F1 / Divulgação

Este foi o assunto do dia ontem. A notícia veio do site The Objective, escrita pelo jornalista espanhol José Zapico, que acompanha a F1 a um bom tempo (está no Twitter com o perfil Virutas de Goma @virutasf1). Segundo ele, diante do desempenho ruim da Mercedes e do crescimento da Aston Martin, haveria uma orientação por parte da matriz da montadora que a equipe de fábrica teria duas etapas para melhorar o desempenho. Caso contrário, teria que passar as melhores unidades para sua cliente.

A matéria ainda lembra que o interesse não é só esportivo. A Aston Martin, além de pagar regiamente pelas unidades de potência, tem a Daimler como uma de suas acionistas (menos de 2%) e é a principal fornecedora de motores e soluções mecânicas para os carros de rua.

Entretanto, a situação não é tão simples assim....senão, vejamos.

Pelo regulamento esportivo e técnico, os fornecedores são obrigados a disponibilizar as mesmas especificações e configurações técnicas a todas as equipes de sua responsabilidade. Se uma melhoria for feita, tem que ser oferecida igualmente. A cliente pode até recusar, mas tem que explicar o motivo à FIA.

Esta ação veio no intuito de igualar as condições entre equipes de fábrica e clientes. Historicamente, as equipes de fábrica tinham modelos melhores e acesso preferencial a novidades. A gota d’água para esta regra da FIA foi o famoso “modo festa” da Mercedes, que só estava disponível para Hamilton e Bottas...

Todo caso, as equipes de fábrica tem uma vantagem sobre as clientes: os motores acabam sendo feitos levando em conta as suas solicitações e tem algumas vantagens na integração com chassi, refrigeração...As clientes tem que se virar com as orientações do fabricante. É mais ou menos como a gente comprando um ar condicionado para colocar em casa...

Entretanto, mesmo com o regulamento em ação, procurando manter o máximo de igualdade possível, esta não é absoluta. A fabricação de uma unidade de potência de um F1 é uma mistura entre artesanato e alta tecnologia. A Mercedes produz cerca de 50 unidades de potência anuais para atender a categoria.

Mesmo com todo o cuidado na confecção, temos diferenças entre as unidades. Por mais que as especificações sejam as mais detalhadas possíveis, cada material tem a sua característica e ainda são previstas tolerâncias. Desta forma, podemos dizer que temos motores semelhantes, porém não iguais. Como assim? Por isso que vemos unidades tendo problemas e outras não. Ou um motor gerar 1000cv e o outro 1002cv ou gastar milímetros de combustível e óleo a menos.  

O fato mais gritante neste ponto foi Interlagos 2021, quando a Mercedes colocou um motor novo para Hamilton. Se estima que, por conta do uso, uma unidade usada pode ter de 20 a 30cv a menos do que uma nova. Junte isso a uma programação eletrônica mais agressiva, fez toda a diferença naquela prova.

Neste aspecto aqui que entra a tal situação de “motores melhores”. Em termos de potência, o máximo que se pode fazer é mudar as programações eletrônicas para liberar mais força, modificar os mapas de descarga de bateria...Então, a Mercedes poderia, dentro dos motores que são destinados aos carros, fazer um direcionamento destas unidades com melhores números. Mas a diferença entre elas, quando novas, é muito pequena. Estamos falando de cerca de 5cv em uma cavalaria total de 1000cv. 0,5%, sendo mais exato.

Sem contar a própria gestão em si. Pelas regras atuais, as “trocas estratégicas” são importantes. Vimos isso em 2021 e 2022, quando trocas de peças foram feitas e certos prejuízos foram “friamente calculados” para garantir um melhor desempenho.

Diante de tudo, a questão dos “motores melhores” acaba passando mais pela gestão de uso do que a potência das unidades. A coluna original passa pelos mesmos pontos que falamos aqui e nós trouxemos outras situações. Portanto, cuidado com o que você lê por aí...

Parabólica
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