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F1: Ferrari toma primeira punição do ano. Crise até quando?

Leclerc tem ECU trocada e perde 10 posições no grid da Arábia. Começo de temporada preocupa, mas equipe tem novas armas para sair da crise

16 mar 2023 - 00h10
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Charles Leclerc começa o ano com sequência de problemas
Charles Leclerc começa o ano com sequência de problemas
Foto: Ferrari / Twitter

O calvário de Charles Leclerc e da Ferrari parece não ter fim. Depois do abandono na primeira etapa do ano, no Barein, o monegasco chega à Arábia Saudita já com um problemão: será o primeiro piloto com uma punição no grid na temporada de 2023 da F1. Isso porque a Ferrari precisará trocar a ECU de seu SF-23, chegando já à terceira peça no ano e ultrapassando o limite para o campeonato todo. 10 posições de pênalti para Leclerc.

Crise não vem de hoje

Apesar do vice-campeonato entre pilotos e construtores e a clara melhora em relação a anos anteriores, a Ferrari terminou 2022 com um gosto amargo. A Scuderia apareceu como competidora real ao título na primeira parte do campeonato do ano passado, mas viu tudo ruir em uma sequência tragicômica de erros óbvios de estratégia, pit stops mal executados, quebras e erros de pilotagem. Com a larga distância para a Red Bull e o peso das trapalhadas nas costas, o segundo lugar foi dolorido para a equipe italiana.

A cúpula da Ferrari cansou de esperar o time dar certo nas mãos de Mattia Binotto e o dispensou. Para seu lugar, chegou o experiente Fredric Vasseur, vindo da Sauber-Alfa Romeo e com passagens bem-sucedidas em categorias de base. Vasseur desembarcou em Maranello prometendo reestruturar boa parte do pessoal técnico – em outras palavras, “limpar” o staff ligado a Binotto. Sobrou para o estrategista que virou meme, o espanhol Iñaki Rueda, afastado das pistas e “rebaixado” a um cargo interno na fábrica.

Na parte administrativa, Vasseur começou a imprimir suas digitais. Mas nada terá valor se os resultados não aparecerem na pista. E, nelas, as apostas estão no SF-23. Com o novo carro, o time almejava voltar a fazer frente à Red Bull e incomodar Max Verstappen. No entanto, passada a primeira etapa do ano, a sensação é de frustração.

Fred Vasseur com Charles Leclerc e Carlos Sainz - recuperação da Ferrari passa por eles
Fred Vasseur com Charles Leclerc e Carlos Sainz - recuperação da Ferrari passa por eles
Foto: Ferrari / Twitter

Não só a distância para Red Bull aumentou ainda mais, como problemas do carro do ano passado se mostraram persistentes. Alto consumo de pneus e confiabilidade, dois dos calcanhares de Aquiles do SF-22, deram as caras. A Ferrari não tinha ritmo para acompanhar a Red Bull nem de longe, e tudo piorou quando Leclerc precisou abandonar por problemas na parte elétrica de sua unidade de potência. Com a quebra, a ECU deu adeus.

Tá ruim o bastante para você? Pois fica pior: a peça havia sido instalada pouco antes da corrida após a unidade que já estava instalada no carro apresentar problemas ao ligar. Duas centrais em uma etapa. O limite para a temporada inteira é de justamente duas peças. Daí a penalização a Leclerc, que já vai para a terceira unidade.

Carro atualizado já na segunda corrida do ano

O choque de realidade no Barein foi grande, mas estamos falando apenas da primeira das 23 corridas da temporada. É claro que a Ferrari não pretende dar o jogo como perdido tão cedo. Vasseur, motivado, prefere minimizar as dificuldades e exaltar a perspectiva de evolução da equipe do carro ao longo do ano.

Após os testes e corrida no Barein, a Ferrari tira como notas positivas a eliminação do porpoising, a boa velocidade em trechos de alta e uma ótima correlação entre os dados de simulador e os obtidos em pista.

Esse último fator abre uma margem interessante para experimentações in house e evoluções mais assertivas na pista. O projeto prevê evoluções constantes e graduais no SF-23, a começar já na Arábia Saudita. Se tudo der certo, mais upgrades serão introduzidos na etapa seguinte, na Austrália. Nada de esperar a temporada europeia, portanto.

Ferrari passa por renovação em 2023
Ferrari passa por renovação em 2023
Foto: Ferrari / Twitter

Vasseur e a Ferrari não especificaram o que será alterado no carro, mas é de se esperar que seja algo mais voltado à confiabilidade e dirigibilidade. Até porque a característica de alta velocidade das pistas de Jeddah e de Melbourne pós-reforma tendem a casar mais com o carro da Ferrari do que a pista do Barein, de modo que os avanços em performance são menos urgentes – se é que se pode dizer isso para quem ainda sonha em buscar a Red Bull...

Por enquanto, a única mudança certa na Arábia será, claro, o nova central eletrônica. Essa peça tem novidades, pois a Ferrari detectou um problema na que se foi no deserto barenita. A dúvida agora é se Sainz – e os demais carros empurrados por unidades de potência Ferrari – também precisarão lançar mão da segunda e última peça já a essa altura do campeonato.

Novas abordagens para problemas antigos

Claro que uma corrida é muito pouco para tirar qualquer conclusão. Muita água ainda vai rolar ao longo do ano, mas o fato é que a Ferrari começa 2023 na mesma fase nebulosa em que terminou 2022. No entanto, apesar das semelhanças, há diferenças importantes.

A principal delas está no comando. Com uma cúpula renovada, é de se esperar abordagens diferentes em situações em que o time vinha batendo cabeça. Um chefe de equipe experiente, sem ligações diretas com a Scuderia até o ano passado e sem os “vícios” da cultura da empresa é um sopro de ar fresco mais que necessário.

Vasseur, o novo manda-chuva da Ferrari, tem grande desafio pela frente
Vasseur, o novo manda-chuva da Ferrari, tem grande desafio pela frente
Foto: Ferrari / Twitter

Um dos grandes enredos para se observar na F1 em 2023 é se o fator novidade vai ser suficiente para reerguer de vez a mais tradicional das equipes. Os calejados e sofridos tifosi, com o grito de “é campeão” engasgado há 15 anos, tentam se apegar a qualquer fio de esperança. A etapa do Barein assustou, mas esse fio segue lá, firme e forte.

Por fim, resta saber até onde irá a paciência de Charles Leclerc. Aquele que já foi tido como um futuro campeão do mundo se vê em um filme repetido: um carro bom - mas não bom o bastante para brigar por títulos -, muita pressão e uma equipe envolvida em confusões dignas dos melhores clássicos da Sessão da Tarde. Com contrato perto do fim, Leclerc precisa acreditar no projeto se a Ferrari quiser tê-lo por mais tempo.

Vasseur tem um ano – talvez menos - para convencer a cúpula, a torcida e Leclerc de que é a pessoa certa para tirar a equipe da crise duradoura e provar que o começo de 2023 foi nada mais que uma continuação de 2022, e não a realidade de mais um campeonato.

O tempo corre contra ele. As primeiras centrais eletrônicas já foram. Quantas ele ainda terá até perder posições no grid da credibilidade dentro da equipe?

Parabólica
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