Uma das frases que mais e melhor representam a ambição de todo montanhista de chegar a algum cume foi dada pelo britânico George Mallory a jornalistas que lhe perguntaram por que fazia tanta questão de escalar o Everest: "Porque ele está lá", resumiu. Em junho de 1924, ele faria a que seria sua última tentativa, da qual, entretanto, ele e seu companheiro Andrew Irvine, nunca retornaram.
O corpo de Mallory só seria localizado em maio de 1999, a 8.327 metros de altitude. As câmeras que poderiam confirmar se efetivamente chegaram ao topo do mundo e só morreram na descida não foram encontradas. Mas com ele havia três cartas embrulhadas em um lenço e endereçadas a sua esposa Ruth Mallory, que só agora vêm a público, por iniciativa da Magdalene College, de Cambridge, onde estudou história antes de dedicar a vida às escaladas.
A divulgação dessas cartas e de outras enviadas a Ruth dos locais mais remotos, incluídos aí os fronts da Primeira Guerra Mundial, onde serviu como artilheiro, é parte das efemérides que marcam o centenário de sua última escalada, promovidas pelo Magdalene College.
Segundo a arquivista do colégio responsável pela divulgação das cartas, Katy Green, a divulgação das cartas permite revelar um perfil desconhecido da personalidade e da vida doméstica do montanhista. "Quando você olha para elas, é emocionante fazer essa conexão direta com aquela pessoa, você pode ouvir a voz deles, não tem um historiador interpretando", afirmou ela ao jornal britânico The Guardian.
A última carta, que relata o estado de ânimo da equipe que o acompanhava no Everest para a terceira tentativa de cume, é definida por Green como a mais pungente. "Você acaba se envolvendo em suas vidas. E você pensa, 'oh, George, não vá, você sabe que vai morrer", conta ela. Mas ele foi para não voltar e ficaram apenas suas impressões finais da montanha a Ruth: "Meu amor, isso é algo totalmente emocionante, nem consigo dizer como me possui e a beleza de tudo isso".
A primeira escalada oficial dos 8.848 metros do Everest acabaria sendo creditada ao neozelandês Edmund Hillary, em 29 de maio de 1953, e a seu sherpa Tenzing Norgay. Só o neto de Mallory, George Mallory 2, conseguiria realizar o sonho do avô, em 1995.
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