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Como 'clubinho de seleções' da Europa ajuda a explicar o fracasso da Dinamarca na Copa do Mundo

Eriksen lamenta o fracasso da Dinamarca na Copa do Mundo Getty Images

A Dinamarca não estava preparada para as dificuldades oferecidas pelas rivais de fora da Europa nesta Copa do Mundo


“Apenas o Qatar foi pior que a Dinamarca nesta Copa do Mundo.” A frase é do ex-jogador da seleção dinamarquesa Jan Age Fjortoft, mas reflete o que quase todo o ‘mundo da bola’ sente diante da frustrante e precoce eliminação da seleção nórdica na fase de grupos.

Pior do que o resultado, entretanto, foi o desempenho. O time não mostrou as qualidades que fizeram dele a aposta de muitos para que fosse a surpresa da competição. Mas o que houve?

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Não existe resposta objetiva para esta pergunta. O futebol não é objetivo. Impossível creditar o jogo ruim a algum desfalque. O único problema médico grave no elenco foi o do volante Delaney, ainda na estreia. Ele deixou o campo no primeiro tempo e não voltou mais. Embora seja importante, a ausência dele não justifica, por si só, o fracasso.

O time contou com o reforço do seu craque, Eriksen, que foi desfalque em quase toda a boa campanha da Eurocopa do ano passado, após desfalecer no jogo de estreia. O meia do Manchester United não teve grandes atuações na Copa, mas não dá pra dizer que o time jogou mal por causa dele.

Nos resta olhar para o campo e buscar explicações táticas. Elas podem ser mais difíceis de perceber, mas olhando com atenção os jogos anteriores da Dinamarca e os desafios que ela teve neste grupo D é possível estabelecer comparações. Antes de tudo, é preciso entender que os problemas estiveram na falta de criatividade no ataque. A defesa não sofreu tanto assim.

Desde a Euro, este time teve três caminhos principais para o gol. Os escanteios (e assim saiu o único gol marcado nesta Copa, contra a França); as bolas recuperadas no campo de ataque diante de defesas em inferioridade numérica; e os lançamentos nas costas das linhas de zagas que jogavam adiantadas.

Aqui cabe relembrar o texto em que abordamos os efeitos colaterais do isolamento europeu. Acontece que a Dinamarca enfrentou no Qatar adversários que lhe propuseram barreiras defensivas completamente diferentes das que ela encontrou nas competições continentais. A começar pelo nível de intensidade, altíssimo. Seleções como Tunísia e Austrália sabem que são inferiores no plano técnico, mas entendem que são capazes de superarem alguns europeus com base na imposição física. E na tática.

É raro ver nas competições europeias times que baixam as linhas de marcação. As que fazem isso são seleções de baixo nível técnico, como Ilhas Faroe e Moldávia, ambas goleadas pela Dinamarca nas eliminatórias. Em geral, os times tentam jogar de igual para igual e, naturalmente, cedem mais espaços em suas defesas. Dos três caminhos para o gol que a Dinamarca possui, dois exploram o fato dos adversários darem espaço (pressão na saída de bola e lançamento por trás de zagas adiantadas). Este espaço não foi dado à Dinamarca pelos adversários considerados mais fracos no Qatar. Muito menos a saída de bola com passes desde os zagueiros. Sobrou apenas o escanteio, que não encaixou nestes jogos.

A campanha dinamarquesa na Euro (assim como nas Eliminatórias) foi turbinada por alguns jogos em Copenhague. Foi lá, com a torcida lotando as arquibancadas do Parken Stadium, que o time de Kasper Hujlmund goleou a Rússia. O outro grande momento da campanha na Euro do ano passado foi o 4 a 0 sobre País de Gales. Precisa dizer mais?