Futebol Americano
Vladimir Bianchini 319d

'Ia ser o jogador mais caro da história': como Kaká ficou no Milan e disse 'não' a proposta milionária do Manchester City

Pep Guardiola, Kevin De Bruyne ou Erling Haaland são alguns dos astros que poderão ficar eternizados caso o Manchester City finalmente conquiste a Champions League. O que muitos não sabem, porém, é que a estrela escolhida para "marcar" o início do projeto que mudou o patamar do clube na Europa poderia ter sido um brasileiro: Kaká.

Poucos meses após ser comprado por uma holding dos Emirados Árabes (atualmente o City Football Group), o City ofereceu - em janeiro de 2009 - mais de 100 milhões de libras ao Milan para contratar o craque.

Kaká, que havia sido eleito o melhor jogador do mundo de 2007, seria protagonista da maior transferência da história do futebol mundial. Em entrevista exclusiva ao ESPN.com.br, ele relembrou os bastidores da negociação. 

“Foram dias muito tensos durante um período foi bem difícil. O Milan tinha uma filosofia de não vender os jogadores. Quando alguém queria sair, tinha que fazer o pedido publicamente. Em 2006, o (atacante ucraniano Andriy) Shevchenko quis ir para o Chelsea, mas o Milan não queria vendê-lo. O Sheva chamou uma coletiva e anunciou que queria outra experiência, daí foi vendido", disse.

Naqueles tempos, o clube de Manchester estava no "meio de tabela" na Premier League e não conseguia disputar a Liga dos Campeões.

"Quando chegou a oferta do City, o (Adriano) Galliani (vice-presidente do Milan) chamou meu pai: 'Pela primeira vez, o Milan vai abrir a porta para a saída de um jogador. Se ele topar, a gente está disposto a vendê-lo'. Naquele momento vi que as coisas estavam mudando".

Com o aval do clube rossonero, as negociações avançaram e foi oferecido a Kaká um contrato com cifras astronômicas. Assim que a notícia vazou na impresa, torcedores - revoltados com a diretoria - e jornalistas começaram a fazer uma vigília na porta da casa do craque. 

"Até o porteiro do meu prédio deu entrevista (risos). A torcida começou a ir para a porta da minha casa e cantar: ‘Não se vende Kaká, não se vende Kaká'. Nos jogos, era a mesma coisa porque levavam as faixas. Eles foram até a porta da sede do Milan. Tudo isso mexeu muito comigo", admitiu.

Durante vários dias, a novela se arrastou. Kaká ficou tão abalado no período que até mesmo o desempenho em campo foi afetado. Ele conta que mal conseguiu jogar durante a vitória por 1 a 0 - gol de Alexandre Pato - sobre a Fiorentina no San Siro, em duelo válido pelo Campeonato Italiano, em 17 de janeiro.

"Foi um dos piores jogos da minha vida! Foi extremamente emocional, não conseguia fazer nada por conta da situação. O jogo inteiro a torcida gritando: 'Não se vende Kaká'. Não conseguia fazer nada! Tinham faixas e na saída do estádio também. Na cabeça deles, era o Milan que estava me vendendo", recordou.

'Ia ser o mais bem pago'

Dois dias depois, o craque precisou comunicar sua decisão para o clube inglês. 

"Chegou o dia final e o meu pai disse: 'É isso, você tem que decidir agora!' Foi o tempo de entrar no quarto e fazer uma oração. Estava muito seguro de não sair. Não era a hora. Dei a notícia ao meu pai, que falou para o pessoal do Manchester City".

Logo em seguida, o dono do Milan, o então primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi, anunciou a notícia da permanência do jogador em duas emissoras de televisão. Às 23h, Kaká apareceu na janela de seu apartamento, no centro de Milão, balançando a camisa rossonera para um grupo de torcedores que estava na porta de sua casa.

"Eles fizeram a maior festa, foi muito especial e me uniu ainda mais ao Milan. Foi muito marcante e forte com o clube e o torcedor. Foi muito mais essa questão emocional do momento que estávamos vivendo do que falar não sinto. A proposta financeira era espetacular, ia ser o jogador mais caro da história e o mais bem pago (da história e) do momento, em 2009. Legal, tudo bem, mas naquele momento minha decisão foi ficar".

"Quando decidi ficar, vi uma alegria até do Galliani: 'Cara, graças a Deus você não aceitou, muito obrigado. Todo o contexto fez com que a gente abrisse a oportunidade da venda, mas eu não queria'. Até hoje quando nos encontramos ele me diz: 'Das vendas, a mais difícil da minha vida foi a tua'. Criou-se esse vínculo muito forte com o clube".

Poucos meses depois, Kaká foi vendido ao Real Madrid. O Milan, que vivia problemas financeiros, passou por um processo de reformulação do elenco e teve a saída do técnico Carlo Ancelotti. O brasileiro voltou ao clube rossonero, pelo qual jogou a temporada 2013/2014.

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